O duplo caráter do golpe se reflete no Fora e no Fica Bolsonaro

Na economia e na política, o duplo caráter, também como em todas as coisas, é o traço essencial dos fenômenos. Na economia burguesa, as mercadorias se expressam sob o duplo caráter do valor de uso e do valor de troca (valor). Já para a economia política, o que importa é o duplo caráter em relação ao trabalho necessário e o excedente. E para política propriamente dita, a luta se caracteriza pelo poder de uma classe manter a exploração contra a classe que luta para pôr fim aos grilhões que o prendem a essa situação. Posições antagônicas marcam essa luta que leva ao confronto, novamente, entre dois sistemas econômicos políticos, Capitalismo X Socialismo.

Em todas essas oposições acima, a luta de classes impõe para as classes em luta o fator decisivo para suas existências, tanto econômica quanto política. Assim, para a burguesia, a defesa do valor da mercadoria, o trabalho excedente (mais valia) e do Capitalismo; e para o proletariado, o valor de uso da mercadoria, o trabalho necessário (meio de subsistência) e o Socialismo. Portanto, o duplo caráter é a maneira pela qual a dialética aparece nas coisas do mundo, nas contradições, na luta entre o velho e o novo. Assim, também se tem o duplo caráter existente em todas as lutas políticas. Por isso, ao tirar o manto que cobre determinada luta social, aberta ou velada, vemos no cerne a luta de classes. Por isso, a principal menção de Marx sobre o tema: “… por detrás de todas as frases, declarações e promessas morais, religiosas, políticas e sociais, há os interesses de uma classe e outra”.

O duplo caráter do golpe, refletido no Fora e Fica Bolsonaro, significa que o proletariado e a burguesia brasileira enquanto classes têm posições e caminhos diferentes a seguir nessa batalha imediata, pois estão em luta interesses e compreensões distintas de classe. O Fora Bolsonaro, com o povo nas ruas, significa a luta contra o golpe, contra as ameaças bolsonaristas ao mínimo de subsistência, à educação, à cultura, ao emprego, às liberdades políticas, à saúde e à luta contra a pandemia, contra os direitos retirados na contra reformas da previdência e trabalhista, contra o que se está planejando com outras reformas constitucionais, etc. O Fora Bolsonaro é uma luta do povo, do proletariado, da esquerda contra a corja fascista imperialista, que busca acentuar e manter a exploração do proletariado em níveis superiores. Por isso, não é uma posição mascarada de oposição ao Bolsonaro, de um acerto providencial entre a burguesia extremada e a direita para seguir colocando o joelho no pescoço do povo.

O Fica Bolsonaro é a luta por cima, de oposição a um segmento do golpe. Diria quase que uma luta interna entre generais (lideranças de partidos burgueses), cada um com seus interesses particulares, tentando adaptar parte do seu projeto ao todo. Por isso, a democracia no todo do projeto golpista é gritado ora aqui e ora acolá. O próprio Bolsonaro e sua corja querem mais espaço democrático para as suas ambições, as quais estão em disputa pela direita e centro. Porém, bastou a entrada do povo mais decidida no cenário, e o próprio Lula tomar a posição de que Fora Bolsonaro significa um conjunto de medidas econômicas e políticas para o povo, que fez sair de foco as tendências mais ordinárias e cínicas como a da salvação nacional ou a frente ampla burguesa. O PSDB de imediato vendo o povo na rua e com uma posição mais consciente saltou: Fica Bolsonaro. “Anéis se negociam, dedos não”, quanto mais pescoço.

A tendência a despolitizar o Fora Bolsonaro vai ficando cada vez mais difícil com a presença do povo nas ruas, no entanto, sabemos bem o lado que pende o caráter da burguesia. O ataque aos movimentos de rua, onde 9/10 são para bater nas depredações, nos vândalos, nos quebra-quebra, tirando de foco a luta principal, o Fora Bolsonaro e a luta contra os fascistas. A ligação à pandemia, ao racismo, é metodicamente apresentada em separado da luta de classes, da crise e do Capital, fornecendo um quadro metafísico da realidade. A democracia burguesa é ilustrada como um paraíso, uma pérola que em hipótese alguma pode ser danificada, e, portanto, o pacifismo ao proletariado é lançado como um escudo de proteção da burguesia repressora, violenta e assassina.

E para aqueles que veem essa luta apenas como uma oposição sem ter muito onde chegar (no máximo como propaganda para a próxima eleição), ou apenas um espaço ao vice ( Mourão), ainda mais pernicioso assumir, ou ainda, não creem que o fora Bolsonaro irá triunfar, fica a indicação: as três referências, além de serem reacionárias de cima a baixo, são um completo entrosamento, daqueles que falam contra a burguesia, contra o medo do golpe militar, na defesa da democracia, no idioma daqueles filósofos que Marx condenou historicamente por proclamar princípios que servem apenas para contemplar o mundo e não para transformá-lo. São, em essência, aqueles que não têm fé no movimento, que não têm fé no povo.

Fora Bolsonaro e sua Corja!

Abaixo o fascismo!

Em defesa dos Comitês contra o golpe (ALN).

Se podemos trabalhar, podemos protestar.

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