O Brasil Pós Eleições 2020

As ruas – lugar decisivo para a luta contra o golpe e o fora Bolsonaro

A conquista do voto universal é a última grande vitória política que o proletariado consegue dentro do sistema burguês, sendo nesse aspecto considerado como a maturidade política da classe operária. Essa conquista, que no Brasil teve um grande avanço na década de 1930 e se concretiza finalmente em 1988 (quando da Constituição “Cidadã” o analfabeto ganha direito ao voto), demonstrou naquela ocasião um avanço da consciência do povo em relação à luta de classes. A burguesia, que anos travara ou impedia as possibilidades do voto universal, cede diante das pressões que o proletariado faz na busca de sua participação nas decisões de quem irá governar o Estado. Daí para frente, poucos avanços podem ser verificados, pois, a cada nova rodada de eleições e eleitos, pouco se altera na vida do trabalhador. E, aos poucos, sua desilusão se estabelece diante dos fracassos eminentes nos eleitos.

Após a conquista do voto universal, o efeito da não participação nesse processo, também pode ser um indicativo de que há uma descrença na via eleitoral como elemento de mudança e ou transformação. A ferramenta, antes tão buscada, parece não corresponder às perspectivas da luta que vale a pena, como algo que tem importância, mas nada decisiva. E isso, pode ser o início de uma nova consciência mais avançada? É claro que não. Porque o abandono dessa ferramenta, como de outras, significa o abandono também da disputa do passo a passo, luta a luta, espaço dentro do campo burguês, para melhor organizar a luta decisiva, ou seja, organizar o povo para os embates realmente profícuos, embates verdadeiramente que valem e merecem atenção principal.

A luta pelo poder, no campo democrático burguês, só é um privilégio para o proletariado que luta pela transformação social, é de modo algum como empreendimento que por si só resolve os problemas do povo por via institucional. Para quem de esquerda tem um plano que visa transformar a “estrebaria da humanidade” em um local adequado ao povo sem ter a pretensão de mudar o sistema político-econômico, sem exagero nenhum, consegue tornar o lugar ainda mais insuportável, com suas próprias defecções. E é justamente nesse ponto que a Social Democracia rompeu com o marxismo, chegando ao ponto de apoiar inclusive a própria burguesia na guerra contra o proletariado.

Portanto, a derrota eleitoral dos partidos de esquerda, de modo geral, significa simplesmente a não presença orgânica junto ao povo. É lógico que se pode atribuir a todos os aspectos econômicos em relação ao espaço que a burguesia tem, de transformar suas ideias em votos, comprados pelo poder econômico, que vai desde o suporte da mídia, empregos, rendas ao proletariado etc., mas isso está presente em todas as eleições. E, nesse sentido, quem mais perdeu foi o Bolsonaro, a extrema direita, que durante a pandemia, foi privilegiado pela seguridade de 600,00 reais, devido à Covid-19. Seu crescimento, anunciado a quatro ventos também pela imprensa burguesa, não decolou, demostrando uma consciência avançada do povo, contra o fascismo.

Sem a presença da esquerda nas ruas, e dado o avanço da consciência popular contra a extrema direita, o voto só poderia desaguar diretamente na direita e no centro à direita. O Fora Bolsonaro e a luta contra o golpe e os golpistas tiveram um recuo da esquerda, um pouco movida pela pandemia, é verdade, mas principalmente por descrença nessa própria luta, de não colocá-lo como prioridade. Isso foi decisivo. A própria submissão da esquerda à dita frente ampla, com FHC, Maia, Dória, etc. fez com que a política da esquerda não tivesse visibilidade diferenciada na hora do voto pelo povo. A esquerda, com sua retirada das ruas e abandonando o Fora Bolsonaro e a luta contra o golpe, privilegiou a direta também golpista, também o voto popular, não se diferenciando na luta. Nesse sentido, a Frente Ampla na verdade se estabeleceu, e, como prevíamos, sob o domínio da direita e dos golpistas.

Já se dimensiona a quatro ventos as eleições de 2022, por todos os entes políticos de esquerda, direita e extrema direita, do Sul ao Norte deste país, até no Amapá, onde o povo não pôde votar por conta do apagão. Mas agora que houve o retorno de energia elétrica, tudo pôde voltar como antes, seguindo os passos da grande imprensa. A vida voltou ao “normal”, ao novo “antes normal”, porque lá a pandemia continua e se agrava como em todo o país, quiçá no mundo. Em outras palavras, a crise econômica, política, institucional e viral se agrava em todos os cantos do planeta.

Tudo demonstra que eleição é que move os intentos daqueles que se digam ou se autodenominam políticos. Mas para a esquerda, ou quem pressupõe a ela se agregar, as coisas não podem ter esta lógica Social Democrata, de se contentar com uma direita, que impõe a guerra contra o proletariado. A dita Frente Ampla, que não pode falar do fora Bolsonaro, contra as privatizações, contra a reforma da previdência, contra a reforma trabalhista, é a frente que soube se projetar e ganhar o voto popular. A Frente de Esquerda, que deve ser ampla, simplesmente entrou nessas eleições para se eleger, e não se elegeu, pelo menos na dimensão que projetara. Ora, sem uma unidade, um programa que, além derrotar a extrema direita, encaminhe uma luta popular, de rua, na busca pela Soberania, acaba por se igualar a ela (à direita). E entre quem tem a máquina do Estado, as empresas capitalistas, o domínio do capital financeiro para efetuar o roubo ou o direcionamento da consciência popular, o faz em um estalar dos dedos.

Se quisermos sermos decisivos na transformação da vida do nosso povo, e trabalhar do ponto de vista da simples lógica eleitoral, é preciso que esse resultado permita no mínimo a esquerda ver que só pode construir seus partidos independentemente como fossem eles a vanguarda da classe operária, trabalhando em uma ampla unidade de esquerda, a qual poderá dar vazão à consciência proletária que busca mudanças profundas ( e o cenário da América do Sul carrega essa perspectiva – basta ver na Bolívia, no Chile, no Uruguai, na Venezuela, na Argentina, no Equador e no Peru), e sob uma bandeira comum, isto é, a luta contra o fascismo e em defesa da Soberania. Essa (Soberania) é que traz arrepios à extrema direita, e também à direita em nosso país.

Se a esquerda quer ser um atrativo para as consciências explosivas da massa proletária, que já não suporta mais o ônus da miséria, que ainda virá em nível de crescimento geométrico, mesmo que eleitoral, a unidade, a luta nas ruas e um projeto de resistência popular ao imperialismo fascista, é de imediato. A derrota não foi da esquerda, foi do caminho que a esquerda traçou, isto é, abandonando a luta pelo Fora Bolsonaro, contra o golpe e se distanciando das ruas, pois não se colocou como alternativa à luta de classes no Brasil. Nesse sentido ficou fácil para a direita institucionalmente abarcar o descontentamento popular contra Bolsonaro e a extrema direita.

Não há tempo a perder. A retomada das ruas na luta pelo Fora Bolsonaro e contra o golpe além de seguir a luta contra a extrema direita, são os caminhos da unidade de esquerda sob o aval do proletariado. É dessa fundição, entre o consciente e o espontâneo, que nascem os planos de Soberania Nacional, bem como a luta pela liberdade, ou seja, o Socialismo.

-Fora Bolsonaro, Mourão e sua corja.

-Abaixo o Fascismo.

-A unidade da esquerda nas ruas contra o golpe e pelo Fora Bolsonaro é fundamental.

 

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