O IMPERIALISMO COM SEDE DE GUERRA

O IMPERIALISMO COM SEDE DE GUERRA

Como sair da crise do Capital se não pela guerra? Mesmo que os povos do mundo, subjugados ao imperialismo, concordassem à eterna exploração, a não se levantar contra a escravidão, a estar dispostos a aceitarem o salário mais baixo possível, não investir sequer em organizações economicistas do tipo sindical, não preparar nenhuma greve, etc., mesmo assim a guerra aconteceria. Mas contra quem seria essa guerra, se a classe operária estaria disposta a aceitar todas as condições, todas as exigências dos seus exploradores? Sendo assim, estaria selada a eternidade do modo de produção capitalista, pois a classe operária deixaria de ser a classe coveira da burguesia e a revolução estaria fora dos planos políticos de um modo de produção mais avançado. Isso não seria mais capitalismo e a existência de classes não seria o motor do antagonismo histórico e social, mas, sim, o mundo inventado pela pequena burguesia, da paz reinante em um capitalismo eterno e eles os promovedores do bem estar das classes.

Esta análise do superimperialismo ou ultraimperialismo, de uma centralização total, onde o parasitismo atingisse todos os ramos de produção, o monopólio único, é obra de Kautsky, tentando vender a imagem que nessa situação a paz reinaria. O esquecimento de que sob o monopólio não exista concorrência entre capitais, sem contradições e luta entre os Estados imperialistas, entre as várias seções da burguesia, é sair da realidade e tratar da teoria subjetivista, academicista, tal qual aquelas divertidas análises de capitalistas que achavam que o juro composto poderia extrair um valor que nem 10 planetas cobertos de ouro seria possível para saciar a usura, o capital, dinheiro financiado a juros sob juros. Ou como o próprio exemplo que Lênin fala sobre os alimentos feitos em laboratórios, onde muitos pensavam que no futuro toda a alimentação viria de laboratório e a agricultura estaria finalizada. Isso acontece quando a teoria perde a sua materialidade e prática, abrindo campo para a “loucura” a serviço da burguesia.

A rendição permanente de uma classe revolucionária na história não passa de ficção, porém, nem sob essa condição a guerra estaria finalizada. Mas porque cargas d’água a guerra é uma necessidade se a outra classe não reage e seus representantes “oficiais” pregam que é preciso um processo evolutivo, conciliatório, onde todos possam marchar juntos, deixando a violência e o controle apenas para uma classe? Por muitas determinações. Aqui vai algumas delas do ponto de vista apenas econômico: queda na taxa de lucro, falta de mercado para a realização da mais valia, corrupção generalizada nas bolsas, capital fictício em demasia, parasitismo ao extremo, decomposição e pouco investimento em altas tecnologias fazendo com que as forças produtivas fiquem estagnadas relativamente, e por aí vai. Daí a guerra é necessária para destruir as forças produtivas e animar a produção novamente, isto é, a produção de mais valia, que começa inicialmente com a fábrica de armamentos, de guerra, além da conquista de uma burguesia da riqueza da outra, anexação de Estados. Marx, no Capital, diz claramente: A burguesia não produz para satisfazer a outra burguesia, uma vender para a outra e viver eternamente assim, num acerto entre os privilégios. A realização do lucro e da riqueza permanente é o que move o Capital.

Nem todo o esforço da pequena burguesia, da esquerda democrática da burguesia, da liquidação da revolução, pode impedir a guerra. “Imaginamos” agora, se a classe operária é mesmo a coveira da burguesia, que essa classe tem um projeto político cientificamente para onde a humanidade caminhará, denominado socialismo, e lutarmos para que essa consciência no seu seio vigore, que a organizamos para a tomada do poder, e a guerra então de inevitável para a burguesia passará a ser também a própria guilhotina do Capital. A transformação da guerra em guerra civil contra a burguesia é o caminho objetivo, a tática da classe operária para acabar com a guerra, por fim a ela. Toda a campanha contra a guerra é impotente caso não exista os preparativos concretos para derrotá-la. Não existe outro caminho sem construir a própria saída da guerra, isto é, a revolução proletária. A insistência da paz eterna sob o capitalismo é invenção da Social Democracia que passou de vez para o lado da burguesia.

Desde a última guerra mundial, quantos golpes, guerras, intervenções imperialistas foram feitas no mundo? Mais de 1000 logicamente. Quantos golpes teve o Brasil, a América Latina, tentativas de derrotar o socialismo em Cuba? A luta pela paz sem acabar com a classe que tem a guerra como um elemento intrínseco a seu modo de produção e vida, sem tirar-lhe o poder e mandá-la para o museu da história, é contribuir primeiro com a manutenção da própria guerra; 2) enganar o povo; 3) defender uma paz do cemitérios; 4) ser capacho da burguesia; 5) defender um socialismo que não existe, pois pregam um capitalismo que também não existente; 6) abrir novos espaços para o fascismo, etc.

Dissemos, em outros textos, que o imperialismo em crise crônica levará a guerra para todos os locais, todos os continentes. A guerra mundial na atualidade é um fato objetivo. Estamos vendo a guerra aproximar rapidamente também de nossas fronteiras. As tentativas anteriores de invasões militares na Venezuela, que proclamavam um interventor como presidente (J. Guaidó) agora se intensificam por conta do aprofundamento da crise. Essequibo, milícias armadas no Equador, tráfico, o cartel de drogas, seja qual for a desculpa, o imperialismo vai provocando o mundo para entrar em guerra. A vitória do governo Fascista na Argentina, fortalece a divisão da América do Sul e fortalece a unidade Beligerante e intervencionista. Nesse cenário as coisas só não estão piores, pela vitória de Lula nas eleições passadas. Porém, sem conscientizar e organizar o povo para o que está sendo preparado na América Latina e no mundo, a nova escalada de violência do saque, miséria, exploração ao máximo, não vamos a lugar algum.

As classes que comandam o nosso país a mais de uma centena de anos, permanecem intactas mesmo com o governo Lula, e seguem se fortalecendo. As suas instituições, tais como forças armadas, monopólio da mídia e um judiciário imovível, nem sequer sofreram algum revés depois do golpe de 2016. A cada dia que passa, o governo vai ficando sem ação para agir de forma independente, pois lança sempre suas perspectivas de conversar com a burguesia e implorar seu aceno, não convoca as organizações populares para fortalecer o poder das ruas. Referenda 100% a força dominada pela burguesia, a institucionalidade dela, sem sequer lutar ou construir outro caminho, outra força para fazer frente a esse poder. É mais legalista que a própria legalidade burguesa o é.

Nessa guerra que se avizinha, Lula age como um Social pacifista, tratando da mesma moeda quem está se defendendo, quem é agredido, quem ainda não fez da guerra a continuidade da sua política interna, e quem agride, quem já não pode viver ou ir adiante sem uma grande guerra, tal qual os EUA e a Inglaterra, França, Alemanha, Japão (OTAN). O Social pacifismo quer fazer a paz prosperar sem alterar o quadro de classe no mundo, em outras palavras, quer que a violência se consagre, e que a burguesia segue comandando. O Social pacifismo é a defesa da eterna escravidão e da guerra embora pregue o contrário. É preciso distinguir entre o que é dito em palavras e o que acontece de fato.

A América Latina, no ano de 2024, está como o resto do mundo, sob a extensão de uma continuidade da guerra mundial imposta pelo imperialismo dos EUA, pela OTAN. O proletariado não pode dar apoio a dita aventura americana e policial na região. Com a ideia do combate ao tráfico, coisa que não está nos planos do imperialismo, que no máximo quer se apossar desse filão ou submeter ainda mais a seu controle, porém o que está em jogo é o domínio político local, ataque às organizações revolucionárias, ataque à Venezuela primeiramente, depois se estende aos demais países. A vitória de Milei, na Argentina, aumentou as perspectivas fascistas na região.

A denúncia do que está acontecendo no Equador, em primeiro lugar, deve ser contra a condução deste processo às margens da luta de classes, afastado do projeto de intervenção política dos EUA. Segundo, denunciar o que está por detrás desse episódio, que segue a conduta de guerra dos EUA e da OTAN, tal como na Ucrânia, na Palestina, no Iêmen, e agora na Venezuela e em toda a América Latina. Sem essa denúncia contundente dos partidos proletários, de esquerda, dos movimentos sociais, não é possível se preparar para os embates futuros, e o pior é fazer o jogo do imperialismo, tratar os acontecimentos de milícias e tráfico à margem da luta de classes, uma neutralidade absurda. Esse é um perigo iminente.

Por fim, dizer que sem a luta pela revolução em época de guerra, transformá-la em guerra civil, é acreditar na sua burguesia, no seu Estado burguês, que mesmo não se enquadrando dentro das perspectivas imperialistas, mantém mil relações com eles, e que essas relações mantêm entre tantas outras, o esmagamento das pretensões de emancipação econômica e liberdade política do proletariado. Todo o proletariado ao unir-se com a sua burguesia, seja qual for os objetivos dessa unidade, inevitavelmente se afundará na lama. Nesse sentido, é um absurdo o proletariado se unir até o pescoço na luta do Estado Russo contra a “Ucrânia” – OTAN, porque de qualquer forma, embora na condição de estar se defendendo, a Rússia e sua burguesia, trabalham também para esmagar o seu proletariado.

Essa guerra só terá fim fora da violência imperialista se houver uma revolução na Rússia novamente ou na Ucrânia. No Equador a ideia de todos os Partidos dar todo o poder a Daniel Noboa, é a confiança total na burguesia e nas suas institucionalidades, é abrir de vez as portas para a entrada do imperialismo no Equador e afundar ainda mais o povo equatoriano e da América Latina. Cada vez vai ficando ainda mais claro a posição dos “chefes da pequena burguesia ‘devem’ ensinar o povo a confiar na burguesia, e o proletariado (chefes) devem ensiná-lo a desconfiar”. (Lênin)

– Abaixo a Guerra imperialista e o Fascismo da Otan.

– Fora EUA da América Latina

João Bourscheid

Membro do Comitê Central PCPB

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