A liberdade de crítica e a democracia imperialista no século XXI

No livro “O que fazer?”, de Lênin, um dos primeiros temas que o autor relaciona com o economicismo é a tal de “Liberdade de Crítica”. Sobre esse assunto, Lênin utiliza a seguinte expressão: “Essa palavra de ordem é, evidentemente, uma daquelas pequenas palavras convencionais que como os apelidos são consagrados pelo uso e tornam-se quase nomes comuns”. E no mundo do século XXI, sob a bandeira do imperialismo, da burguesia financeira, a democracia passou a ter essa expressão, capaz de transformar qualquer fascista em defensor da democracia, e qualquer um da esquerda que já não queira mais a luta pela transformação social, da luta proletária, da luta soberana, da luta pelo Socialismo, em se esconder atrás da dita luta democrática.

Se no mundo é possível ver um país como os EUA invadir, dominar, matar, executar quem quer que seja em nome da Democracia, é porque essa palavra de ordem virou chavão para esconder as piores atrocidades humanas. A democracia passou a ser pauta da Rede Globo, da CNN, da Band, da Record. Até Bolsonaro, que busca o aprofundamento do golpe de 2016, virou um democrata. Até o fim dos direitos trabalhista, da aposentadoria, virou uma necessidade da democracia. Por fim, a Democracia virou salvo conduto tanto para a extrema direita, direita, centro e esquerda. É claro que, no campo da burguesia, ela serve como um elemento prático para atacar o proletariado, o Socialismo, os comunistas, os revolucionários e a esquerda em geral. Já para parte da esquerda passa a ser a defesa para não lutar por objetivos maiores, para acomodar-se sob a forma evolucionista e eleitoral de ir avançando aos poucos, democraticamente, sem que haja rompimento.

Já dissemos que a mídia “democrática” nunca deu direito a ocuparem as telinhas das TVs a Lula ou a Dilma de se defenderem no curso do golpe. Moro que deveria no mínimo estar preso por tudo que fez à economia, à política e ao zombar das instituições de defesa da Democracia brasileira, nem uma ação lhe é imposta a concorrer. Candidato à eleição para presidente tem carta branca da CIA e do imperialismo ianque, e isso basta. O que o STF pode garantir depois dessa zombaria toda? Qual a corrupção que espera o TSE depois de permitir a viabilidade de uma candidatura que sob o cargo do Ministério Público exerceu um mandato político, encaminhando um golpe institucional e elegendo aquele que mais tarde lhe daria o posto de Ministro da Justiça. Não é a democracia brasileira que chama atenção, é a democracia do Capital da qual a própria esquerda tem amnésia quando tem que relacioná-la a uma ditadura da burguesia.

Os testes das urnas eletrônicas contra os ataques dos hackers são para demonstrar a segurança da democracia do voto. Mas, na eleição anterior também não estava relacionada ao voto em si (que em grande parcela é comprado pelo Capital), mas na eliminação do candidato que ganharia as eleições. Mas se agora há tanta preocupação com a eficácia das urnas, algo tem. Sabemos, no entanto, que a burguesia imperialista não quer de forma alguma arrumar mais problemas do que já tem, por isso rechaça a eleição de Lula, e por quê? Porque é a mais democrática para o povo brasileiro. E a esquerda que gosta tanto da democracia como valor universal poderia, por apenas um momento, defender a democracia popular e o Lula desde já.

Mas talvez se invertêssemos a palavra democracia, poderia fazer um efeito novo para a esquerda, isto é, passando a ter no mínimo um significado de luta. Por exemplo: Se fôssemos mais antidemocráticos, talvez lutássemos com mais força e decisão contra o golpe; jamais ficaríamos atados ou amarrados a ideia de que os golpistas não teriam voto o suficiente para apoiar o impeachment da ex-presidenta Dilma; a pandemia não seria um problema para que saíssemos às ruas e mobilizássemos o povo contra Bolsonaro, Mourão e sua corja, por conta de não seremos confundidos ou rotulados pela moral burguesa como negacionistas; de forma alguma permitiríamos a prisão da maior liderança de esquerda sem no mínimo parar e mobilizar de Sul ao Norte o povo brasileiro; sequer estaríamos pondo dúvidas de que a esquerda unida une o povo e que para que nossas propostas sejam assimiladas precisamos de nos unir com golpistas ou com algum engomadinho do lado de lá; nem precisaríamos enaltecer a palavra Frente Ampla sem conteúdo, em vez de já estar dando passos adiantados na construção de um programa soberano e real para o país e para o povo brasileiro.

Às vezes quando uma palavra, como diz Lênin, passa a se tornar tão comum como um apelido e que não faz mais efeito, é preciso apelar pelo seu contrário. Talvez possamos tirar e mobilizar grande parte daqueles que querem lutar e não sabem como sair da inércia política. E para encerrar, talvez neste momento, se formos mais antidemocráticos, não deixaremos a pauta de 2022 nos ludibriarmos a ponto de renunciar a luta pelo Fora Bolsonaro Mourão, deixando as extensas mobilizações de rua para encaminhar apenas e somente negociações e arranjos eleitorais. Temos que ter presente que a luta contra o golpe continua e que o genocida é o responsável em grande parte pela mortandade do povo brasileiro, da entrega do patrimônio público e nacional às grandes corporações internacionais (que ainda pouco se dimensiona o grau dessa dependência e a maneira de derrotá-la), e que o mesmo está sentado à direita da direita, portanto apoiado pela burguesia brasileira e o imperialismo.

Talvez se fôssemos um pouco mais antidemocráticos, seríamos, com certeza, mil vezes mais democráticos, pois não acreditaríamos tanto nas histórias da carochinha contadas pelos golpistas; em outras palavras, se fôssemos mais antidemocráticos saberíamos melhor lutar contra o nosso inimigo de classe que nos arrasta para o pântano de sua democracia, fazendo com que quando nos mexemos parece que mais e mais nos afundamos. Nesse sentido, assumir a luta antidemocrática só poderá nos fazer bem e mais democráticos no sentido revolucionário.

Fora Bolsonaro, Mourão e sua corja;

Abaixo o Fascismo;

Fora EUA da América Latina;

Lula Presidente.

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